Grande movimentação de turistas, sexo sem proteção e alta incidência de mosquito são fatores que podem elevar casos de bebês com microcefalia. Saiba quais medidas estão sendo tomadas para essa data comemorativa.

Carnaval reúne fatores de risco preocupantes para o aumento da transmissão do zika em um momento em que a epidemia encontra-se em curva de ascensão no Brasil. A passagem de milhares de turistas nas capitais famosas pelos tradicionais carnavais de rua, em estados com alto número de casos de bebês nascidos com microcefalia e suspeita de ligação com o zika vírus, pode representar um “coquetel explosivo” e ajudar a espalhar ainda mais a doença pelo país, alerta a coordenadora de virologia clínica da Sociedade Brasileira de Infectologia, Nancy Bellei.

O chamado “coquetel explosivo” do Carnaval inclui, segundo os infectologistas, as grandes aglomerações de pessoas, em geral, com poucas roupas e por isso mais vulneráveis às picadas do Aedes aegypti, possibilidade de chuvas, grande acúmulo de lixo nas ruas e por consequência, mais chance de potenciais criadouros do mosquito. Além disso, o Carnaval conta com o maior numero de relações sexuais sem proteção e risco de gestações indesejadas, justamente nos locais de maior incidência do vírus relacionado à má formação fetal.

Nancy explica que o potencial de propagação do zika devido ao Carnaval também depende da existência do mosquito nos locais de origem dos turistas. “Se a pessoa vai para uma capital com grande Carnaval de rua, é picada e infectada pelo zika e volta para sua cidade mas lá não há o mosquito, ela vai adoecer, se tratar, e tudo bem. Agora, se o local de origem tiver o Aedes aegypti, o mosquito pode picar essa pessoa, receber o vírus e introduzir a doença num local até então livre dela”, explica.

O mosquito, vetor dos três vírus, pode ser encontrado em todos os Estados, mas a região Sul estaria menos vulnerável, por ter clima mais frio e tradicionalmente apresentar menor incidência do mosquito.


Precaução e recomendações

Para os participantes do Carnaval de rua, as principais recomendações são evitar deixar água parada, além do uso de preservativos nas relações sexuais. O uso de repelentes pode ajudar desde que seja reaplicado conforme as orientações do fabricante.

O Ministério da Saúde diz que tem fortalecido a capacidade de atendimento e articulação do SUS em cidades que recebem grande influxo de turistas. Além disso, o ministério também destacou o site www.saude.gov.br/viajante, disponível desde maio de 2013, onde há dicas de prevenção e cuidados durante viagens para brasileiros e estrangeiros nos idiomas português, inglês, espanhol e francês.

O governo conta com um comunicado especial enviado pelo Ministério do Turismo no início de janeiro de 2016, a 56 mil hotéis, bares e restaurantes, agências de viagens e transportadores turísticos em todo o país acerca dos cuidados com a proliferação do Aedes aegypti e os riscos da dengue, chikungunya e do zika vírus.

“No material estão listados as medidas que devem ser tomadas nos locais com potencial para proliferação do mosquito como jardins, quintais, cozinhas, depósitos, animais de estimação e banheiros. Como os meses de janeiro e fevereiro são de alta temporada no Brasil, o Ministério do Turismo também tem orientado o turista, antes de viajar, a ficar atento para evitar que a própria casa transforme-se em um criadouro para o mosquito”, acrescenta a nota do governo.


Saiba mais sobre a prevenção e contenção do problema, realizadas pelo Ministério da Saúde e as prefeituras de Recife, João Pessoa, Salvador e Rio de Janeiro – capitais com expressivos carnavais de rua que atraem milhares todos os anos e onde há forte presença do Aedes aegypti  e de casos de microcefalia.
1. RECIFE

A capital do Estado mais afetado pelo zika até o momento, com 1.236 casos de microcefalia relacionados ao vírus e estado de emergência decretado desde novembro tem um dos carnavais de rua mais agitados do país. A prefeitura informou as seguintes medidas:

– Intensificação do combate ao mosquito desde o primeiro semestre de 2015; reforço das Forças Armadas ajudou a controlar a epidemia em junho; índice LIRAa (Levantamento Rápido de Índice de Infestação por Aedes aegypti), de infestação vetorial, se encontra em 1,1 para cada cem casas, mais baixo para meses de janeiro em dez anos; mutirões para identificar focos do mosquito no circuito do Galo da Madrugada, centro do Recife e palcos da Prefeitura nos bairros; orientações e conscientização com 500 organizadores de blocos; panfletagem em todas as entradas e saídas da cidade e folder bilíngue orientando a procura do atendimento médico assim que apresentem qualquer sintoma; orientação do uso do preservativo e prevenção é parte das campanhas, evita também a gestação indesejada.
2. JOÃO PESSOA

Embora não esteja entre os maiores carnavais do país, a Folia de Rua, projeto que agrega dezenas de blocos uma semana antes do Carnaval, reuniu cerca de 300 mil pessoas em João Pessoa em 2015. Capital do Estado com o segundo maior numero de casos de microcefalia relacionados ao zika (569), a cidade deve preparar as seguintes medidas:

– Controle de vetores e ações educativas; de 25 de janeiro a 19 de fevereiro, utilização do carro “fumacê” nas áreas de concentração e desfiles dos blocos, rodoviária e estação ferroviária, e em torno dos retiros religiosos; visitas e batidas de focos em ação conjunta com soldados do Exército Brasileiro; no último LIRAa registrou-se 0,3 para cada cem casas, indicando um baixíssimo risco de infestação do mosquito.
3. SALVADOR

De acordo com o governo baiano, o Carnaval de Salvador reuniu 700 mil foliões em 2015, e somente pelo aeroporto da cidade passaram mais de 35 mil pessoas por dia durante a festa. Capital do Estado com o terceiro maior número de casos de microcefalia relacionados ao zika (450), a cidade informou as seguintes medidas:

– Ações desde 4/12/2015, com início das festas, que só se encerram no fim do Carnaval; Call Center para receber denúncias de focos de mosquito e relatar sintomas, receber orientações (71 3208 1808); durante o Carnaval haverá borrifação de inseticida em torno de todas as UPAs da cidade; antes e depois do período do Carnaval serão feitas inspeção e borrifação de inseticida em torno dos palcos em alguns bairros e nos três circuitos oficiais Dodô (Ondina), Osmar (Avenida Sete) e Batatinha (Pelourinho), incluindo bocas de lobo; trabalho educativo em aeroporto, rodoviária e no circuito, distribuindo a “mãozinha da dengue”, que serve como um leque, com elástico, e traz diversas orientações; orientação do uso e distribuição de preservativos, além da fiscalização do descarte dos banheiros químicos; técnica do bloqueio, quando se envia uma equipe até a casa da pessoa infectada para borrifar inseticida e tentar bloquear transmissão para outras pessoas.
4. RIO DE JANEIRO

O Carnaval do Rio levou 4,7 milhões de pessoas às ruas em 2015, dos quais 977 mil eram turistas, segundo a Riotur. Os maiores blocos da capital do Estado (em 9º no ranking de microcefalia relacionados ao zika, com 122 casos) costumam reunir de 350 mil a 1 milhão de pessoas. A Prefeitura do Rio informou as seguintes medidas:

– Ações de prevenção e combate ao mosquito são intensificadas no verão, e o Rio conta com mais de 3 mil agentes de vigilância ambiental em saúde; monitoramento de focos do mosquito é feito diariamente, independentemente de grandes eventos na cidade; é importante ressaltar que não há epidemia de zika, chikunguya ou dengue na cidade e que em 2015 a cidade registrou o segundo menor número de casos dos últimos cinco anos; para o Carnaval há vistorias no sambódromo e entorno, Cidade do Samba e quadras das escolas de 15 em 15 dias.

 

Fonte: BBC Brasil

Via: CREMESP